O que um profissional que trabalha com
Situação embaraçosa não é? Para piorar o problema, você ainda fica com medo de negar, para não perder o cliente. Afinal de contas, esse mesmo cliente pode encarar isso de maneira negativa, caso os arquivos não sejam entregues junto com o trabalho. Eu já passei por isso em algumas situações e digo que a melhor solução é se prevenir para evitar surpresas.
Antes de começar qualquer trabalho, acerte com o seu cliente esse detalhe. Será necessário entregar os arquivos originais? Caso seja, tenha em mente uma coisa, o cliente terá total poder para passar uma futura atualização para outra pessoa ou empresa no futuro. Nada garante que você será chamado para fazer as atualizações, no seu próprio trabalho.
Qual a solução? Na verdade, não há solução fácil. Adicionar algum detalhe ao arquivo que impossibilite ou dificulte o trabalho de outro artista, seria uma solução um tanto quanto mesquinha para não dizer anti-profissional. Uma solução que acredito ser a mais viável é entrar em acordo com o cliente, para que o valor pago pelo serviço seja um pouco maior, refletindo a entrega dos arquivos originais. Isso já seria uma forma de compensação pela incerteza de realizar as futuras atualizações no trabalho.
Mas isso só funciona quando é previamente combinado com o cliente, se você esquecer esse detalhe, poderá precisar abrir mão dos arquivos originais ou então encarar a possibilidade de perder o cliente, para futuros projetos. Caso alguém já tenha tido alguma experiência semelhante, pode compartilhar nos comentários. Esse tipo de problema é inevitável na nossa área de atuação, então é sempre bom estar preparado para lidar com isso.
Já vivenciei essa situação no extremo oposto – como cliente, solicito os arquivos originais. No meu caso acho justificado, pois existem objetos que foram modelados internamentes e por sigilo contratual nada pode ser usado em outros trabalhos fora da empresa. Além disso, os arquivos originais são necessários para trabalhos posteriores de processamento que não envolvem praticamente nenhum trabalho artístico (por exemplo, a criação de duas cenas com deslocamento da câmera para apresentação em 3D stereo) e mesmo pouco trabalho técnico.
A postura de exigir os originais trata o profissional de forma semelhante a um analista de sistemas ou outros profissionais de informática, que ao contrário dos profissionais de engenharia não mantêm por lei direitos (patentes, autoria, etc) sobre o trabalho que produzem. Acho apropriado para trabalhos do tipo maquete eletrônica, arquitetura, plantas e modelos técnicos. Por outro lado, acho que o mesmo tratamento não seria razoável para trabalhos essencialmente mais artísticos, como por exemplo a criação de personagens. Acho que o maior problema é que a fronteira é extremamente ténue…
Eu também sempre aviso antes: “isto não inclui os arquivos originais, ok?”. Ai, ja teve discussões, acordos, tudo, mas sempre se resolve numa boa. Se você não avisou, ai também acho que é tarde demais. Se o cliente diz: “Eu achava que vinham os arquivos originais também!” ele terá razão…
Gustavo: Realmente é uma fronteira muito ténue, mas o melhor caminho é o diálogo. Outro problema comum está no uso de bibliotecas de objetos. Por exemplo, para criar maquetes eletrônicas o profissional pode ter comprado uma biblioteca com mobiliário. Com a entrega dos arquivos originais, o artísta provavelmente não vai querer distribuir os modelos da sua biblioteca.
Yorik: É isso mesmo! Tem que avisar, senão no final nós temos que ceder.
Bom, eu já não concordo totalmente em ter que ceder o material para o cliente. Mas cada projeto tem suas particularidades, então acho que o certo é avisar antes mesmo.
É como se o programador fosse obrigado a ceder o código fonte do software que desenvolveu para seu cliente. Isso envolve o direito autoral patrimonial sobre a obra que, se não tiver sido cedido ao cliente, não o pertence. O interesse do cliente, na contratação de um projeto, é o “produto final”, caso contrário, deve ser cobrado os direitos do autor (me corrijam se estiver errado).
Por isso é bom deixar claro antes mesmo, pois no final das contas quem sempre perde somos nós profissionais.
Abraços
Rodrigo,
A legislação para profissionais de informática é a seguinte, se você compra um software não precisa necessariamente receber o código fonte. Se você contrata o programador para realizar o desenvolvimento, o código fonte é do contratante, a menos que o contrato especifique algo diferente. Se alguma biblioteca tiver sido utilizada, de forma análoga ao que o Allan Brito mencionou, ela só poderá ser usada naquele projeto.
Agora, legislação a parte, acho que no caso de projetos de animação é muito importante que tudo seja tratado antes e principalmente que haja consicência por parte tanto do contratante quando do contratado. Por um lado, acho um absurdo pagar de novo apenas para reposicionar uma câmera. Por outro, mesmo que o artista concorde, o contratante precisa ter consciência de não causar uma polêmica ao estilo do “Superman” (os autores o venderam por $130 dólares, algo entre $1000 e $6000 em dinheiro de hoje).
Gustavo,
Quanto a questão da legislação, creio que realmente essa seja a forma certa, ou seja, ceder o arquivo fonte ao cliente caso você tenha sido contratado para desenvolver um projeto específicamente para ele, caso contrário, acho que se isso não tenha sido documentado, o direito sobre o fonte é do autor, não tenho certeza mas vou procurar saber sobre isso depois.
Já no caso de você achar um absurdo ter que pagar novamente, discordo de você, pois todo nosso trabalho anterior, tornou a execução futura mais prática, e isso não deve ser desvalorizado. Abusurdo sim é abusar demais no valor a ser cobrado, portanto, deve haver um bom senso por parte do contratado também.
É aquela velha história do mecânico e do fazendeiro, que depois de chamar 3 mecânicos que não conseguiam resolver o problema do trator, o último cobra R$ 1.000,00 do fazendeiro, pra consertar (bem mais que os outros que não conseguiram), e com apenas uma martelada, resolve o problema, deixando o fazendeiro indignado que pergunta: Porque me cobrou esse absurdo, só pra dar uma martelada? Re: “O concerto foi R$10,00, R$ 990,00 foi por saber onde martelar…”.
Então, acho que se eu procuro alguém que faça o trabalho que preciso, é por que não tenho competência para tal. A outra alternativa é: Faça você mesmo.
Abraços.
Rodrigo,
De forma alguma eu acho que o trabalho original deva ser desvalorizado, me desculpe se você entendeu dessa forma… Acho que colocando exatamente no contexto o Allan Brito falou inicialmente, fica mais fácil de entender o que digo: uma animação para uma campanha publicitária.
Não acho que o problema realmente gire em torno de uma questão de competência, até mesmo porque um projeto assim pode envolver uma equipe com vários profissionais de especialidades diversas e uma empresa contratante com competência em outra área completamente diferente. Acredito que a grande questão é que o assunto envolve autoria.
Por um lado, se a empresa contratante exigir os originais, ela pode fazer no futuro um novo comercial sem sequer falar (e muito menos pagar) com os autores do trabalho original. Eu acho isso errado, mesmo que tenha sido tratado antes. Talvés o ideal seria a legislação regular isso como faz com o trabalho de engenheiros e arquitetos, que possuem alguns direitos de autoria dos quais não podem abrir mão, nem por contrato.
No extremo oposto, se a empresa não receber os originais e quiser fazer uma sequência no futuro, para manter a qualidade vai ter que contratar a equipe original (ou quem quer que seja que estiver com os originais…). Do contrário, vai ter que pagar para recriar praticamente tudo que foi feito antes para servir de ponto de partida do novo projeto, provavelmente mais trabalho até do que o dispendido para se fazer o original. Quem estiver com os originais, sabendo disso, poderia resolver cobrar bem mais caro que da primeira vez, o que, novamente, em minha opinião, acho errado. Acreditar nisso para mim é achar que a empresa que pagou pelo serviço, que pagou pela divulgação e que produz o produto objeto da campanha não tem nenhuma propriedade sobre a mesma.
Como evitar tais extremos? A minha sugestão é diálogo e consciência por parte de ambos os lados! Bom, essa é apenas minha opinião.
Um abraço,
Gustavo